A Taverna do Corsário é um pequeno estabelecimento e grande ponto de encontro. Esta localizada no final da Praia da Rama, na Baía de Dark - um Vilarejo, situado entre as Ilhas do Farol e Bucaneiros, com pequeno número de almas vivas, porém com grande número de fantasmas. Em Dark, após o último lampião apagar, os moradores juram que em noite de grande bruma salina, navios piratas-fantasmas são avistados na baía entoando a mesma canção: “Sete piratas sobre um caixão e uma garrafa de rum, rô,rô,rô,rô!!!!”

sábado, 5 de setembro de 2009

Ondas curtas e Bombom de Licor


D. Dulcce temperava cuidadosamente o licor de café. Era uma antiga receita que faria de bombons. Não era facil encontar bom café em Dark, mas o Sr. Salvador Creolo sempre trazia o melhor dos torrados para D. Dulcce. Muita gentileza Sr. Salvador, agradecia a doceira dando em troca ao velho marinheiro uma lata com biscoitos de amêndoas. O Sr. Sarzag está? O Maneca queria mostar a ele uma coisa que seu amigo Marconi de St. Johns construiu. Sarzag saiu de dentro da doceria com as orelhas em pé. Uma coisa? para mim? As senhoras de Dark diziam que o Sr. Sarzag tinha ouvido de Tuberculoso. Ouvia um leve espeirro a quilômetros de distância e muitas vezes respondia "Obrigado" quando elas cochichavam o quanto ele era elegante e distinto, deixando todas ruborizadas.
Maneca entrou em seguida, tirando a boina e mostrando a brilhante careca. Veja sr. Sarzag, meu amigo Marconi disse que podemos ouvir vozes vindas de longe dentro dessa caixa. Vozes? Vindas de longe? Almas? Perguntou o curioso marido de Dulcce. Não senhor, explicou Maneca. Daqui podemos ouvir meu amigo Marconi, lá de St. Johns, disse o marinheiro. Mas St. John está a dois dias de navio daqui Sr. Maneca! Sim, sim! venha ver. Escute. Cuidadosamente virou o pequeno botão e logo um chiado foi ouvido. Podia escutar-se um homem que relatava as atividades do prefeito Egorjeen, da Ilha de Bucaneiros. Incrível... Balbuciou, ainda incrédulo o Sr. Sarzag. Tem certeza que não são almas, querido? Perguntou D. Dulcce? Só se o prefeito morreu, querida! Retrucou o homem. "Pela Hóstia Consagrada" disse e se benzeu a doceira. O que mais faltam inventar??? Sr. Maneca, ficarei com o invento e foi fazer os acertos da compra, com a certeza que estava diante de um grande e revolucionário invento.


A estalagem de Mama Chultz

Enquanto Salvador e Ryal contavam histórias sobre o Terrível Kraken, a Lula gigante que aterrorizava os Sete Mares para uma dúzia de crianças boquiabertas, o Taverneiro pediu a Petit Enfant que levasse Maneca e Carlos a Estalagem de Mama Chultz. Peti Enfant torceu o nariz. Detestava ir até o local por causa de Hanz e Fritz, os filhos gêmeos de Mama. Deixou Marvin preso na dispensa da Taverna e seguiu resignado morro acima até o local. Da última vez que esteve lá os gêmeos amarraram várias cordas e latas no rabo de Marvin, que em na tentativa de livrar-se do barulho derrubou a banca de flores de Clara, a banca de Verduras e vários latões de lixo. Petit Enfant teve que arrumar tudo enquanto os pequenos riam, protegidos pelo avô, o Capitão Dirks. Mama Chultz estava de bom humor. Gostava de hóspedes, não pelo lucro, mas por ter notícias de outros povos e cidades. Já conhecia de cor as histórias do sogro, o aposentado Capitão Dirks, único hóspede fixo que tinha desde a inauguração da estalagem. O marido de Mama, Rudolph era o atual Capitão da Nau Orm, uma das últimas que ainda
desbravavam os Mares em busca de riquezas e terras ainda não conhecidas.
Mama serviu suco de amora e logo pediu aos gêmeos que levassem as malas para os quartos e enquanto fazia as fichas perguntava: Conte Dr. Carlos, como estão as coisas em Bucaneiros? Como sempre sra. Chultz.... O prefeito não se importa muito com os distritos como Ruen e Robec e todos os recursos estão na Capital Frisea. Lá as crianças vão a escola e o prefeito Egorjeen se orgulha dos passeios limpos. Pelo menos lá o Dr. Roux conseguiu emplacar a política Sanitarista e os esgostos não correm mais a céu aberto. Um grande homem o Dr. Roux! finalizou Carlos, o Boticário. Mama Chultz concordou com os olhos fixados no boticário, tentando imaginar o que era a Política Sanitarista.
De rabo de olho Petit olhava ao redor em busca dos gêmeos. Quietos demais, pensou. Ao tomar o suco de amora, lágrimas
vieram aos olhos. Amoras com Pimenta! Mama acudia Petit enquanto os Gêmeos choravam de rir.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Grandes Histórias de Amigos

Quando o Taverneiro abriu as portas na manhã fria para que Petit Enfant entrasse com o cesto de pão, viu uma rodinha formada na praça e logo percebeu que os amigos já tinham chegado. Os pescadores já rodeavam e esguia figura de Salvador Creolo que gesticulava enfaticamente, dando vida a história que contava. O Taverneiro aproximou-se e perguntou num murmúrio a Ryal, que ouvia o relato de braços cruzados: "Lago Ness" ou "Barba Azul"? "Lago Ness" respondeu inclinando levemente a cabeça. -Venha, Clara já mandou o pão, disse o Taverneiro. Assim que acabar, respondeu Ryal que ouvia a historia pela milésima vez, mas mesmo assim, não se cansava.Os quatro amigos entram pela porta da Taverna as gargalhas. Sempre alegres, riam de tudo, ou quase tudo. Petit! Gritou Maneca, cada dia maior! Garotinho, garotinho, você tá cada dia mais gordo, riu Ryal. Trouxe Xarope de Guaco, disse Carlos colocando o vidro amarelo em cima do Balcão. Onde está Malvino, perguntou Salvador? Trouxe café para o Louro. Malvino logo se aprumou: Biscoito! Biscoito! O Taverneiro riu. Os amigos sempre faziam grande festa e barulho. Logo, logo a Taverna estaria cheia para ouvir as histórias de piratas e aventuras do mar que Salvador contaria. Muitas repetidas, é verdade, mas não fazia diferença.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pingos na Lata de Dormir


O taverneiro verifica se está tudo fechado. Antes, pela pequena janela que dá para Baia, coloca a velha "lata de chuva", bem embaixo da calha em formato de "V". Sem o barulho da água pingando sobre o metal não consegue dormir. Malvino se apruma e fica perto do pequeno braseiro. Começa a entoar baixinho a canção pirata "Sete piratas sobre o Caixão.." O sono chega para todos. Em seu último pensamento da noite, o Taverneiro lembra que os amigos Corsários virão visitá-lo amanhã. Salvador Creolo, Ryal, Maneca e Carlos, o Boticário. Farei Torresmo pensou antes de dormir.

Apagam-se os lampiões.

Começa a garoar. O movimento na Praia da Rama vai diminuindo. Padre Miguel é o último a sair. Zé, feche tudo antes que eu saia, ele diz ao Taverneiro. O Taverneiro ri em silêncio e obedece. Além de Padre, o eclesiástico é irmão de seu pai e padrinho. Desde que abrira a Taverna Padre Miguel só não apareceu em dias de Gripe forte e Extrema Unções. Porque assim a gente garante que a Taverna não vira Bordel, ele sempre dizia a D. Cotinha quando alguém perguntava porque ele era um frequentador tão assíduo. Porque assim tomo conta do meu afilhado, dizia para D. Bebeth. Porque assim tomo a melhor sopa da região, dizia para D. Julia, a cozinheira. Mas no fundo só o Taverneiro sabia que o Porto escondido no buraco inferior do balcão era o que realmente garantia a passagem do padre. Vamos, ande logo, disse batendo a bengala na soleira da porta. O Taverneiro fechou tudo, pegou o lampião e subiu enquanto o padre seguia em direção a Cúria.

Madrugada Alta em Dark

Na Praia da Rama o movimento na Taverna é animado. Padre Miguel está contando uma de suas perigrinações. Faz frio do lado de fora e as janelas fechadas estão embaçadas. Esbaforando pelo nariz, Petif Enfant faz desenhos de vapor no vidro. Passa a manga da camisa para tentar ver o Farol ao longe. Só consegue ver o faixo de luz iluminando o mar e cortando a neblina. Ele não consegue nem mesmo ver 0 mar calmo.
Aproveitando a sopa das 22h30 estão Bernardo e Bianca. O jovem casal sempre passa na Taverna depois da escola para jantar. Bernardo é o administrador da Sub-Prefeitura e é ele quem emite todas as certidões do Vilarejo. O corpo esguio e magro faz com que muitos achem que ele é apenas uma auxiliar. O Taverneiro sempre diz que ele está muito magro e a porção de sopa que serve a ele é sempre reforçada. Bernardo funga com o calor da sopa a sua frente. Os óculos embaçam. Está ótima diz para a esposa Bianca, que consente com a cabeça. Bernardo espirra. Bianca levanta os olhos em reprovação. Ele encolhe os ombros. É a rinite. Ela é crônica. Você sabe. Ela sabe, mas não se acostuma com a fungação.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A Bruma Salina Cai sobre Dark

Anoitece. O Silêncio é composto por barulho de mar, tosse de menino e miados. Malvino se agita e procura ficar mais perto de Marvin, que dorme do lado do fogão. Clara, a florista, se prepara para ir prá casa. Vendeu pouco hoje. Nem as almas estavam muito alegres. Vai fazer pão para levar para Taverna. Isso garante sua sopa. O Taverneiro já a convidou para trabalhar com ela, mas sempre diz que não. Prefere continuar vendo as pessoas na rua e passar por suas histórias sem interrupções.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Doceria Candice


Bem ao lado da Taverna fica a doceria Candice. Bolos, doces, petit fours, balas. Eram a alegria das crianças e um santo remédio para os que haviam abusado da Bagaceira do Taverneiro. O casal proprietário havia chegado a Baía de Dark há dois anos. Vieram de longe, após dias de navio. Na verdade o destino era a Ilha dos Bucaneiros, mas a viagem cansativa os fizeram ficar por ali mesmo. A doceira não poderia ter escolhido melhor ofício. Seu sorriso era de mel, a voz doce e calma. Petit Enfant sempre diz que ela cheira a chocolate. O sotaque diferente mostrava que sua terra natal ficava muito distante. D. Dulcce era casada com Sazarg que cultivava por ela uma amor devoto e dedicado. Doces não eram seu forte, mas gerenciava o estabelecimento de bom grado. Nas horas vagas dedicava seu tempo em escrever crônicas. Era admirado por todas as senhoras do pequeno vilarejo.

Tarde quente em Dark


A Cigana levanta a barra da saia. As poças são mais habeis que ela. Quando abaixa a cabeça os cabelos encaracolados atrapalham a visão. Molha a sandália. Molha a barra da saia. Logo alcança a oficina do ferreiro. Espera o irmão do meio, Sitans, do lado de fora. O barulho do ferro trincando a irrita. Cantarola. Wolf, o ferreiro mais velho repara na mulher do outro lado da rua. Ampaz, o ferreio surdo percebe a irritação do irmão quando vê Sitans largar tudo e sair. Dá os ombros. Quem não atrapalha já ajuda muito. Wolf tem certeza que o irmão vai gastar o que não tem na Taverna. Sitans encontra a Cigana. Passa o braço sobre os ombros dela e reclama do trabalho pesado.
A Taverna do Corsário é um pequeno comércio rústico. Encontra-se bebidas, comidas ( das mais variadas), apetrechos de pesca e tabaco para cachimbo.
Situada entre a Ilha do Farol e dos Bucaneiros, fica no final da Praia da Rama.
O quadro funcional é pequeno. O Taverneiro Zeca. De cabelos e barba branca (de boina de marinheiro e cachimbo). Dona Julia a cozinheira de mãos cheia. Sua especialidade é "afogadinho". Lyrad, o Anão, auxiliar de tudo. João, o "petit enfant" que com seu cão Marvim ajuda o taverneiro a apanhar as garrafas com as mensagens na praia. Papagaio Malvino que além de falar, canta, pergunta e diz ter sido criado por um Pirata na ilha dos Bucaneiros. O papagaio carrega um maldito sotaque caipira.
Nem sempre há luz na cidade. O jornal local é fala um pouco de tudo, e muito mais da vida alheia. Muitas notícias chegam por mensagens enviadas em garrafas lançadas nos mares do mundo ou quando algum barco ou navio atraca no porto da cidade.

A sociedade de Dark


Todos se conheciam na Baía de Dark. Mas, muitos se ignoravam. As mesas da Taverna do Corsário gerenciavam estrategicamente as mágoas e picuínhas cultivadas entre as famílias ao longo dos anos.
O Taverneiro era muito ligado a suas raízes. Aquelas que ele mesmo havia criado, é claro. Nascido numa cidade montanhosa a 670km longe do mar, ele havia escolhido a Baía de Dark como sua cidade natal. Lá cultivou amigos e histórias que não se cansava de contar.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Manhã em Dark


O martelo soava na Bigorna.Rodas riscavam a areia e o cascalho molhado em sinfonia. O ferreiro mais novo não se importava. Era surdo.
A parteira passou apressada. Na verdade parou por instantes para ouvir a discussão dentro da Taverna. Apertou o Xale e o passo na neblina.
As 10h00 o sol acabara com as Brumas. Mas o frio vento sudoeste insinuava que as crianças deviam sair de casa agasalhadas. Petit Enfant, alheio ao sinais do tempo, chutava água junto com Marvin e lançava pedrinhas de cascalho dentro da água fria. Malvino cantava o hino Corsário na Casoarina próxima. Rou, Rou, Rou. Com a cabeça arrepiada pelo vento esperava a brincadeira terminar.
O Taverneiro ainda estava em dúvida sobre o almoço. Saiu a procura da florista e uma idéia do que fazer. Com esse frio? A florista respondeu: Bem, com esse frio, sugiro Caldo de Peixe. O Taverneiro sorriu satisfeito. Como não havia pensado no Caldo de Peixe antes? Deu meia-volta, encontrou o tripeiro e comprou miúdos de boi para preparar de forma impecável para seus clientes. Já na porta da Taverna pediu a Ylrad, o anão, que retirasse o cartaz da porta com o anúncio do prato do dia " Guisado de Cordeiro" .

Fim de inverno na Baia de Dark

Brumas salinas pairam na Baía de Dark. O taberneiro prepara o Café enquanto Malvino cantarola o Hino do Time local.

A bruma está densa. O Ferreiro mais velho abre a porta da oficina, enche o peito com o ar gelado. Não se vê a casa ao lado. Fará sol. Sorri.

O Taverneiro coça a cabeça. Que fará para o almoço? Se d. Cotinha sair do jornal mais cedo fará Afogadinho de Galinha. Pés são todos dela.

Peti Enfant abre a porta com o pé. As mãos carregam o latao de lixo e o pé segura Marvin. Malvino, no ombro grita: Cobertor verde, louro!

A florista olha a Bruma e suspira. O ar úmido não favorece os cravos. Espera pelas gargalhadas de Petit Enfant, sentada na porta da taverna.